As redes compartilhadas, hoje também chamadas de redes neutras, não são novidade no mercado de telecomunicações. Há muitos anos existem termos como swap, MVNO (operadora móvel virtual), divisão de fibra apagada e até mesmo “fazer uma VLAN para atender meu cliente pela sua rede”. Recentemente o mercado está adotando o conceito “rede FTTH neutra”, que é o compartilhamento da infraestrutura de fibra óptica da empresa A com a empresa B, a fim de atender o cliente final de B pela rede FTTH de A.
De fato, a rede FTTH neutra pode surgir como um parâmetro fundamental para escalar áreas de coberturas sem a necessidade de puxar mais backbone ou abrir novos POPs – pontos de presença. Inclusive existe a possibilidade de se criar um market place de venda de Internet, em que qualquer pessoa física ou jurídica poderá vender planos de acesso sem ter um único metro de fibra puxada. Mais à frente voltarei ao tema das aplicações comerciais.
O compartilhamento de postes é um dos principais desafios às empresas de SCM – Serviço de Comunicação Multimídia. Atire a primeira pedra quem ainda não teve algum problema, principalmente nos grandes centros.
O espaço é finito, portanto, limitado. Na maioria das concessionárias de energia existem cinco vagas para compartilhar com as operadoras de telecomunicações. Mas a pergunta fica no ar: qual é a melhor forma de resolver esse problema? A seguir apresentaremos cinco cenários. Conforme avançamos, as soluções se tornam mais sofisticadas, com maior eficiência e redução de custos.
Esse é o motivo que traz muita insegurança e o menos recomendado. A rede do provedor puxada nos postes é um dos seus principais patrimônios. Muitos levaram praticamente a vida toda para chegar a esse nível.
Essa é uma solução legalmente mais segura que a primeira. No entanto, requer elevados investimentos, considerando os seguintes aspectos:
– Engenharia para projetar a estrutura e registrar nos órgãos competentes;
– Os produtos são muito mais caros, como as caixas especiais com vedação para a rede subterrânea ou cabos do tipo DD, DE, DDR e afins;
– O custo de execução da rede também fica substancialmente maior, com a necessidade de maquinário e mão de obra para fazer perfurações ou ainda com elevado custo-hora na locação de equipamentos de MND – método não destrutivo;
– Dificuldade operacional durante a obra, como canos perfurados, dutos de energiae de gás; e
Dificuldade do acesso da última milha para chegada do cabo subterrâneo à casado cliente. Cada ativação será uma batalha.
Para ter algumas empresas na mesma BAP é importante observar o contrato de compartilhamento de postes com a concessionária. Algumas distribuidoras têm a cláusula de não permissão do compartilhamento do ponto de fixação.
Contudo, do ponto de vista técnico, é totalmente viável. O limite de cabos por ponto de fixação é de 65 mm. Levando em conta que a maioria dos provedores usa cabo ASU, com diâmetro em torno de 6,8 mm, é possível usar até oito a nove cabos no ponto de ancoragem. Deve-se observar que os pontos precisam ser identificados com a placa do titular do contrato e todos os cabos espinados.
Uma boa prática de projeto é a utilização de fibras de reserva para fazer ampliações de rede. Com o aumento da concorrência, tem ficado cada vez mais difícil encher uma CTO – caixa terminal óptica de 1×16. É comum ver taxas de penetração surreais. Por exemplo, na rua onde moro há cerca de 40 residências, porém existem pelo menos sete provedores com caixas, ou seja, uma capacidade de atendimento de 112 portas para um público-alvo de 40 casas. Contudo, essas fibras apagadas podem ser usadas em negociações com outras empresas, como aluguel, venda ou até mesmo permutas. Por exemplo, “você usa tantos km de fibra neste trecho e em troca eu cedo a mesma quantidade em outro bairro ou cidade.”
As figuras 1, 2 e 3 mostram na prática como funciona este cenário de rede compartilhada. No mapa da figura 1 os triângulos são caixas de emenda, os círculos são CTOs e os dois ícones de casa mostram os provedores A e B. Nos cabos de 12 fibras, cada provedor fica com seis. O provedor A atende sua rede das fibras 1 a 6 e o provedor B das fibras 7 a 12. Neste cenário, cada provedor tem a sua OLT própria e as redes são fisicamente separadas. A caixa de emenda é trabalhada com duas bandejas: bandeja 1 do provedor A e bandeja 2 do
provedor B. Nas figuras 2 e 3, a CTO funciona da seguinte maneira: os dois provedores compram uma caixa com capacidade de 16 atendimentos. Cada provedor coloca um splitter de 1×8 e ativa através de uma fibra independente.
É possível que várias empresas usem fisicamente a mesma CTO e a mesma fibra óptica separando os clientes em nível lógico. É possível criar uma rede compartilhada usando a mesma fibra e fazendo a divisão apenas em nível lógico. Nas duas formas as OLTs são compartilhadas. Na figura 4 é apresentada uma ilustração que se comporta da seguinte forma:
– Os concentradores dos provedores acessam portas de uplink separadas da OLT;
– Uma ONU é provisionada na OLT; e
– O cliente é autenticado no concentrador do provedor titular do cliente, que terá todos os controles de acesso e controle de banda.
Apesar de ser bastante utilizado, o formato apresenta uma fragilidade. Quem tiver acesso ao login e senha da OLT, por consequência, terá acesso aos detalhes de LOG de todos os clientes de todos os provedores. Daí surge a necessidade da criação de uma metodologia que possibilite separar esses clientes dentro da OLT. O formato de rede apresentado na figura 5 mostra os detalhes muito semelhantes com o exemplo anterior da figura 4.
Contudo, é importante ressaltar que as novas OLTs de algumas marcas permitem a criação de slice (fatia em inglês). Essa funcionalidade cria fatias de OLT virtualizadas com logins e senhas próprias. Assim o provedor logado na OLT só consegue visualizar seus clientes. Mais que login independente, essas slices
possuem múltiplas fatias de rede para flexibilização de serviços, separação dos planos de controle e encaminhamento, além de fatias independentes com portas, VLAN e endereço MAC/IP. Com a rede de acesso (atendimento) compartilhada, o uso se torna mais otimizado. Reduz custos e evita investimentos sobrepostos ao mesmo tempo em que possibilita a convergência de serviços. Entre outras vantagens estão:
– A empresa paga apenas por porta conectada;
– Diminui o capital investido na construção de rede;
– Otimização dos custos operacionais; melhor aproveitamento de espaço ocupado nos postes;
– Crescimento mais acelerado e escalado; e
– Foco maior em marketing e vendas.
É obvio que o mercado ainda precisa evoluir e amadurecer para que o modelo de negócio se torne uma realidade. Muitos provedores não pensam em compartilhar a rede em última milha, embora essas mesmas empresas já pratiquem o conceito de rede neutra em backbone há muitos anos.
A rede neutra é uma grande possibilidade de negócios. É uma solução mais administrativa do que técnica, uma vez que tecnicamente não há gargalo. Por isso é sempre recomendável uma boa consultoria jurídica para os dois lados, tanto do locador como do locatário.
Como citado, a abertura da infraestrutura de uma empresa para fazer rede neutra requer muita maturidade empresarial.
Por isso é sempre recomendável uma boa consultoria jurídica para os dois lados, tanto do locador como do locatário.
As definições contratuais precisam ser bem detalhadas e transparentes com as obrigações das duas partes, respondendo a questões como:
– Quem fica responsável pelo suporte?
– Quem faz a instalação do cliente?
– De quem será o link?
– Vai existir padronização de ONU para se integrar facilmente com os softwares de gestão?
– Será disponibilizado espaço para colocação de equipamento do locatário no rack do locador?
– O acesso do locatário será totalmente remoto?
– Qual o prazo de duração do contrato para que haja segurança jurídica nas prospecções e fechamento dos novos clientes?
– Quais as cláusulas punitivas por descumprimento de obrigações?
Há muitos pontos importantes que precisam ser fechados e bem modelados. Quanto mais documentado e detalhado for o contrato, menor será o risco futuro de atritos comerciais.
A possibilidade de compartilhamento de redes pelo Brasil pode criar um novo modelo de provedores de Internet baseado em market places. Imagine a seguinte situação: tenho um provedor na capital e meu cliente se muda de um bairro para outro. Posso negociar uma porta com um provedor local e continuar atendendo o cliente. Se esse cliente mudar de cidade ou de estado, é possível a criação de uma empresa nacional focada em marketing e vendas capaz de atender muitos clientes sem ter um metro de fibra sequer. Isso é positivo, pois ganha quem vende e ganha quem atende de fato.
Revista RTI – Redes, Telecom e instalações – Edição Maio/22